segunda-feira, 26 de maio de 2008

CATARINA EUFÉMIA

Cantar Alentejano - Jose Afonso


Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão por
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem pr'a si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p´ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar.

JOSÉ AFONSO

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Homenagem a VICTOR JARA




Victor Jara estava nas instalações da Universidade, quando se deu o golpe de Estado de Augusto Pinochet, em 11 de Setembro de 1973.
Os militares cercaram a Universidade onde se encontravam alunos, funcionários e professores, obrigando-os a passar a noite de 11 para 12 de Setembro dentro das suas instalações.
No dia seguinte invadiram a Universidade e transportaram-nos para o Estádio do Chile, convertendo-o num campo de concentração.
Os prisioneiros foram mantidos lá num clima de fome, frio, violência e terror durante vários dias.
Victor Jara foi reconhecido pelos militares e foi espancado e torturado durante esses dias, até ao seu assassinato a 16 de Setembro.

Nos dias anteriores ao seu assassinato, escreveu este poema que, graças aos seus companheiros de cativeiro, conseguiu chegar até nós. E neste dia em que a justiça chilena condenou o seu cruel assassino, aqui deixo a minha homenagem a este grande homem de convicções. Hasta siempre Victor Jara.


"Somos cinco mil

Somos cinco mil aquí.
En esta pequeña parte de la ciudad.
Somos cinco mil.
¿Cuántos somos en total
en las ciudades y en todo el país?

Somos aquí diez mil manos
que siembran y hacen andar las fábricas.

¡Cuánta humanidad
con hambre, frío, pánico, dolor,
presión moral, terror y locura!

Seis de los nuestros se perdieron
en el espacio de las estrellas.

Un muerto, un golpeado como jamás creí
se podría golpear a un ser humano.

Los otros cuatro quisieron quitar
se todos los temores,uno saltando al vacío,
otro golpeándose la cabeza contra el muro,
pero todos con la mirada fija de la muerte.

¡Qué espanto causa el rostro del fascismo!

Llevan a cabo sus planes con precisión artera sin importarles nada.
La sangre para ellos son medallas.
La matanza es acto de heroísmo.

¿Es éste el mundo que creaste, Dios mío?
¿Para esto tus siete días de asombro y trabajo?

En estas cuatro murallas sólo existe un número que no progresa.
Que lentamente querrá la muerte.

Pero de pronto me golpea la consciencia
y veo esta marea sin latido
y veo el pulso de las máquinas
y los militares mostrando su rostro de matrona lleno de dulzura.

¿Y Méjico, Cuba, y el mundo?
¡Qué griten esta ignominia!

Somos diez mil manos que no producen.
¿Cuántos somos en toda la patria?

La sangre del Compañero Presidente
golpea más fuerte que bombas y metrallas.
Así golpeará nuestro puño nuevamente.
Canto, que mal me salescuando tengo que cantar espanto.
Espanto como el que vivo, como el que muero, espanto.

De verme entre tantos y tantos momentos del infinito
en que el silencio y el grito son las metas de este canto.

Lo que nunca vi, lo que he sentido
y lo que siento hará brotar el momento..."

Victor Jara

quarta-feira, 14 de maio de 2008

AS BRUMAS DO FUTURO




Sim, foi assim que a minha mão
Surgiu de entre o silêncio obscuro
E com cuidado, guardou lugar
À flor da Primavera e a tudo

Manhã de Abril
E um gesto puro
Coincidiu com a multidão
Que tudo esperava e descobriu
Que a razão de um povo inteiro
Leva tempo a construir

Ficámos nós Só a pensar Se o gesto fora bem seguro

Ficámos nós A hesitar
Por entre as brumas do futuro

A outra acção prudente
Que termo dava
À solidão da gente
Que deseperava
Na calada e fria noite
De uma terra inconsolável
Adormeci
Com a sensação
Que tinhamos mudado o mundo
Na madrugada
A multidão
Gritava os sonhos mais profundos

Mas além disso
Um outro breve início
Deixou palavras de ordem
Nos muros da cidade
Quebrando as leis do medo
Foi mostrando os caminhos
E a cada um a voz
Que a voz de cada era
A sua voz
A sua voz

terça-feira, 6 de maio de 2008

Maio Maduro Maio




“Isto vai meus amigos isto vai

um passo atrás são sempre dois em frente

e um povo verdadeiro não se trai

não quer gente mais gente que outra gente

Isto vai meus amigos isto vai

o que é preciso é ter sempre presente

que o presente é um tempo que se vai

e o futuro é o tempo resistente

Depois da tempestade há a bonança

que é verde como a cor que tem a esperança

quando a água de Abril sobre nós cai.

O que é preciso é termos confiança

se fizermos de Maio a nossa lança

isto vai meus amigos isto vai.”


Ary dos Sandos " O Futuro"