...Quem a fez era soldado homem novo capitão mas também tinha a seu lado muitos homens na prisão. De tudo o que Abril abriu ainda pouco se disse um menino que sorriu uma porta que se abrisse um fruto que se expandiu um pão que se repartisse um capitão que seguiu o que a história lhe predisse e entre vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras um povo que levantava sobre um rio de pobreza a bandeira em que ondulava a sua própria grandeza! De tudo o que Abril abriu ainda pouco se disse e só nos faltava agora que este Abril não se cumprisse. Só nos faltava que os cães viessem ferrar o dente na carne dos capitães que se arriscaram na frente. Na frente de todos nós povo soberano e total que ao mesmo tempo é a voz e o braço de Portugal. Ouvi banqueiros fascistas agiotas do lazer latifundiários machistas balofos verbos de encher e outras coisas em istas que não cabe dizer aqui que aos capitães progressistas o povo deu o poder! E se esse poder um dia o quiser roubar alguém não fica na burguesia volta à barriga da mãe! Volta à barriga da terra que em boa hora o pariu agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu! Ary dos Santos
Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. Pretendendo continuar a informar o País sobre o desenrolar dos acontecimentos históricos que se estão processando, o Movimento das Forças Armadas comunica que as operações iniciadas na madrugada de hoje se desenrolam de acordo com as previsões, encontrando-se dominados vários objectivos importantes de entre os quais de citam os seguintes: - Comando da Legião Portuguesa - Emissora nacional - Rádio Clube Português - Radiotelevisão Portuguesa - Rádio Marconi - Banco de Portugal - Quartel-General da Região Militar de Lisboa - Quartel-General da Região Militar do Porto - Instalações do Quartel-Mestre-General - Ministério do Exército, donde o respectivo Ministro se pôs em fuga - Aeroporto da Portela - Aeródromo Base n.º 1 - Manutenção Militar - Forte de Peniche
S. Ex.ª o Almirante Américo Tomás, S. Ex.ª o Prof. Marcelo Caetano e os membros do Governo encontram-se cercados por forças do Movimento no quartel da Guarda Nacional Republicana, no Carmo, e no Regimento de Lanceiros 2 tendo já sido apresentado um ultimato para a sua rendição. O Movimento domina a situação em todo o País e recomenda, uma vez mais, a toda a população que se mantenha calma. Renova-se, também, a indicação já difundida para encerramento imediato dos estabelecimentos comerciais, por forma a não ser forçoso decretar o recolher obrigatório.
Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária.
Quis saber quem sou O que faço aqui Quem me abandonou De quem me esqueci Perguntei por mim Quis saber de nós Mas o mar Não me traz Tua voz.
Em silêncio, amor Em tristeza e fim Eu te sinto, em flor Eu te sofro, em mim Eu te lembro, assim Partir é morrer Como amar É ganhar E perder
Tu vieste em flor Eu te desfolhei Tu te deste em amor Eu nada te dei Em teu corpo, amor Eu adormeci Morri nele E ao morrer Renasci
E depois do amor E depois de nós O dizer adeus O ficarmos sós Teu lugar a mais Tua ausência em mim Tua paz Que perdi Minha dor que aprendi De novo vieste em flor Te desfolhei...
E depois do amor E depois de nós O adeus O ficarmos sós
Somos filhos da madrugada Pelas praias do mar nos vamos À procura de quem nos traga Verde oliva de flor no ramo Nave gamos de vaga em vaga Não sou bemos de dor nem mágoa Pelas praias do mar nos vamos À procura de manhã clara
Lá do cimo de uma montanha Acendemos uma fogueira Para não se apagar a chama Que dá vida na noite inteira Mensageira pomba chamada Mensageira da madrugada Quando a noite vier que venha Lá do cimo de uma montanha
Onde o vento cortou amarras Largaremos p'la noite fora Onde há sempre uma boa estrela Noite e dia ao romper da aurora Vira a proa minha galera Que a vitória já não espera Fresca, brisa, moira encantada Vira a proa da minha barca.
Se Vossa Excelência Senhor Presidente Viesse cá almoçar mais vezes Se um dia chegasse de surpresa Iria ver onde é a nossa mesa Pr'aí pela beira da estrada Ou entre as pilhas da madeira Podia ver como é que a gente come Podia ver como é que a gente vive.
Se Vossa Excelência Senhor Presidente Viesse cá almoçar mais vezes Iria ouvir discursos bem diferentes Nas bocas que hoje foram tão galantes Iria ver como essa gente Tão boazinha e sorridente Como essa gente trata quem trabalha Como nos fala aqui no dia-a-dia.
Se Vossa Excelência Senhor Presidente Viesse cá almoçar mais vezes Se cá viesse sem a comitiva Então veria o que é a nossa vida Veria a gente despedida Ameaçada e ofendida Por defender o pão das nossas bocas Por defender o pão dos nossos filhos.
Se Vossa Excelência Senhor Presidente Viesse cá almoçar mais vezes Se um dia aqui chegasse sem aviso Então faria disto um bom juízo Iria ver como é roubado Quem dia a dia é explorado Que aqui quem manda faz tudo o que quer Mas não vai ser não vai ser sempre assim.
"Hoy puede ser un gran día", plantéatelo así: aprovecharlo o que pase de largo depende en parte de tí.
Dale el día libre a la experiencia para comenzar y recíbelo como si fuera fiesta de guardar.
No consientas que se esfume, asómate y consume la vida a granel... "Hoy puede ser un gran día", duro con él... "Hoy puede ser un gran día", donde todo está por descubrir, si lo empleas como el último que te toca vivir.
Saca de paseo a tus instintos, y ventílalos al sol y no dosifiques los placeres, si puedes, derróchalos.
Si la rutina te aplasta, dile que ya basta de mediocridad... "Hoy puede ser un gran día", date una oportunidad... "Hoy puede ser un gran día", i mposible de recuperar, un ejemplar único, no lo dejes escapar. Que todo cuanto te rodea lo han puesto para tí. No lo mires desde la ventana, y siéntate al festín. Pelea por lo que quieres y no desesperes si algo no anda bien... "Hoy puede ser un gran día" y mañana también...
Para la libertad sangro, lucho, pervivo. Para la libertad, mis ojos y mis manos, como un árbol carnal, generoso y cautivo, doy a los cirujanos. Para la libertad siento más corazones que arenas en mi pecho: dan espumas mis venas, y entro en los hospitales, y entro en los algodones como en las azucenas. Porque donde unas cuencas vacías amanezcan, ella pondrá dos piedras de futura mirada y hará que nuevos brazos y nuevas piernas crezcan en la carne talada. Retoñarán aladas de savia sin otoño, reliquias de mi cuerpo que pierdo en cada herida. Porque soy como el árbol talado, que retoño: aún tengo la vida.
Todo pasa y todo queda Pero lo nuestro es pasar, Pasar haciendo caminos, Caminos sobre la mar.
Nunca perseguí la gloria, Ni dejar en la memoria De los hombres mi canción; Yo amo los mundos sutiles, Ingrávidos y gentiles Como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse de sol y grana, Volar bajo el cielo azul, Temblar súbitamente y quebrarse... Nunca perseguí la gloria.
Caminante son tus huellas el camino y nada más; Caminante, no hay camino se hace camino al andar.
Al andar se hace camino Y al volver la vista atrás Se ve la senda que nunca Se ha de volver a pisar. Caminante no hay camino sino estelas en la mar...
Hace algún tiempo en ese lugar Donde hoy los bosques se visten de espinos Se oyó la voz de un poeta gritar Caminante no hay camino, se hace camino al andar...
Golpe a golpe, verso a verso... Murió el poeta lejos del hogar Le cubre el polvo de un país vecino. Al alejarse, le vieron llorar. "caminante, no hay camino, se hace camino al andar..."
Golpe a golpe, verso a verso... Cuando el jilguero no puede cantar Cuando el poeta es un peregrino, Cuando de nada nos sirve rezar. Caminante no hay camino, se hace camino al andar.
" Todos nós somos memória, e a memória, para o bom e para o mal, é a única coisa que não nos podem roubar".
Cantares de Amigos
"É possível falar sem um nó na garganta é possível amar sem que venham proibir é possível correr sem que seja a fugir. Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta. É possível andar sem olhar para o chão é possível viver sem que seja de rastos. Os teus olhos nasceram para olhar os astros. Se te apetece dizer não grita comigo: não. É possível viver de outro modo. É possível transformares em arma a tua mão. É possível o amor é possível o pão. É possível viver de pé! Não te deixes murchar. Não deixes que te domem. É possível viver sem fingir que se vive. É possível ser homem. É possível ser livre."
Manuel Alegre
"Primeiro levaram os comunistas, mas não me importei com isso eu não era comunista. Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso eu também não era operário. Depois prenderam os sindicalistas, mas não me importei com isso porque eu não sou sindicalista. Depois agarraram uns sacerdotes, mas como não sou religioso também não me importei. Agora estão-me a levar a mim Mas já é tarde..."
(Bertold Brecht)
“A minha vida é um vendaval que se soltou. É uma onda que se alevantou. É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou, Sei que não vou por aí.”
José Régio
"Oh! Esta comoção de me sentir sozinho no meio da multidão - a ouvir o meu coração no peito do vizinho Oh! Esta solidão quente como a camaradagem do vinho!
José Gomes Ferreira, Comício"
"Homem, abre os olhos e verás em cada outro homem um irmão. Homem, as paixões que te consomem não são boas nem más. São a tua condição. A paz, porém, só a terás quando o pão que os outros comem, homem, for igual ao teu pão.
Armindo Rodrigues"
"Quando desembarcas em Lisboa, Céu celeste e rosa, estuque branco e ouro pétalas de ladrilho as casas, as portas, os tectos, as janelas salpicadas do ouro verde dos limões, do azul ultramarino dos navios, quando desembarcas não conheces, não sabes que por detrás das janelas escuta ronda a polícia negra, os carcereiros de luto de Salazar, perfeitos filhos de sacristia e calabouço despachando presos para as ilhas, condenando ao silêncio pululando como esquadrões de sombras sob janelas verdes, entre montes azuis, a polícia, sob outonais cornucópias, a polícia procurando portugueses, escavando o solo, destinando os homens à sombra.