terça-feira, 16 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL PARA TODOS.

Quando um Homem Quiser - Paulo de Carvalho

Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Ary dos Santos

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

No me llames extranjero.



No me llames extranjero, por que haya nacido lejos,
O por que tenga otro nombre la tierra de donde vengo
No me llames extranjero, por que fue distinto el seno
O por que acunó mi infancia otro idioma de los cuentos,
No me llames extranjero si en el amor de una madre,
Tuvimos la misma luz en el canto y en el beso,
Con que nos sueñan iguales las madres contra su pecho.

No me llames extranjero, ni pienses de donde vengo,
Mejor saber donde vamos, adonde nos lleva el tiempo,
No me llames extranjero, por que tu pan y tu fuego,
Calman mi hambre y frío, y me cobije tu techo,
No me llames extranjero tu trigo es como mi trigo
Tu mano como la mía, tu fuego como mi fuego,
Y el hambre no avisa nunca, vive cambiando de dueño.
Y me llamas extranjero por que me trajo un camino,
Por que nací en otro pueblo, por que conozco otros mares,
Y zarpé un día de otro puerto, si siempre quedan iguales en el
Adiós los pañuelos, y las pupilas borrosas de los que dejamos
Lejos, los amigos que nos nombran y son iguales los besos
Y el amor de la que sueña con el día del regreso.
No me llames extranjero, traemos el mismo grito,
El mismo cansancio viejo que viene arrastrando el hombre
Desde el fondo de los tiempos, cuando no existían fronteras,
Antes que vinieran ellos, los que dividen y matan,
Los que roban los que mienten los que venden nuestros sueños,
Los que inventaron un día, esta palabra, extranjero.

No me llames extranjero que es una palabra triste,
Que es una palabra helada huele a olvido y a destierro,
No me llames extranjero mira tu niño y el mío
Como corren de la mano hasta el final del sendero,
No me llames extranjero ellos no saben de idiomas
De límites ni banderas, míralos se van al cielo
Por una risa paloma que los reúne en el vuelo.

No me llames extranjero piensa en tu hermano y el mío
El cuerpo lleno de balas besando de muerte el suelo,
Ellos no eran extranjeros se conocían de siempre
Por la libertad eterna e igual de libres murieron
No me llames extranjero, mírame bien a los ojos,
Mucho más allá del odio, del egoísmo y el miedo,
Y verás que soy un hombre, no puedo ser extranjero.

RAFAEL AMOR

sábado, 6 de dezembro de 2008

La Paloma





Se equivocó la paloma,
se equivocaba.
Por ir al norte, fue al sur.
Creyó que el trigo era agua. Se equivocaba.
Creyó que el mar era el cielo;
que la noche, la manaña.
Se equivocaba.
Que las estrellas,eran rocio;
que la calor, la nevada.
Se equivocaba.
Que tu falda era su blusa,
que tu corazón, su casa.
Se equivocaba.
(Ella se durmió en la orilla.
Tú, en la cumbre de una rama)

Rafael Alberti

domingo, 30 de novembro de 2008

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.




Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Escrever por exemplo:
A noite está fria e tiritam, azuis, os astros à distância
Gira o vento da noite pelo céu e canta
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Eu a quis e por vezes ela também me quis
Em noites como esta, apertei-a em meus braços
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito
Ela me quis e as vezes eu também a queria
Como não ter amado seus grandes olhos fixos ?
Posso escrever os versos mais lindos esta noite
Pensar que não a tenho
Sentir que já a perdi
Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela
E cai o verso na alma como orvalho no trigo
Que importa se não pode o meu amor guardá-la ?

A noite está estrelada e ela não está comigo
Isso é tudo
A distância alguém canta. A distância
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Para tê-la mais perto meu olhar a procura
Meu coração procura-a, ela não está comigo
A mesma noite faz brancas as mesmas árvores
Já não somos os mesmos que antes havíamos sido
Já não a quero, é certo
Porém quanto a queria !
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido
De outro. será de outro
Como antes de meus beijos
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos
Já não a quero, é certo,
Porém talvez a queira
Ah ! é tão curto o amor, tão demorado o olvido
Porque em noites como esta
Eu a apertei em meus braços,
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Mesmo que seja a última esta dor que me causa
E estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.

Pablo Neruda

domingo, 23 de novembro de 2008

Eu sou Português.





Eu sou português
aqui
em terra e fome talhado
feito de barro e carvão
rasgado pelo vento norte
amante certo da morte
no silêncio da agressão.

Eu sou português
aqui
mas nascido deste lado
do lado de cá da vida
do lado do sofrimento
da miséria repetida
do pé descalço
do vento.

Nasci
deste lado da cidade
nesta margem
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.

Eu sou português
aqui
no teatro mentiroso
mas afinal verdadeiro
na finta fácil
no gozo
no sorriso doloroso
no gingar dum marinheiro.

Nasci
deste lado da ternura
do coração esfarrapado
eu sou filho da aventura
da anedota
do acaso
campeão do improviso,
trago as mão sujas do sangue
que empapa a terra que piso.

Eu sou português
aqui
na brilhantina em que embrulho,
do alto da minha esquina
a conversa e a borrasca
eu sou filho do sarilho
do gesto desmesurado
nos cordéis do desenrasca.

Nasci
aqui
no mês de Abril
quando esqueci toda a saudade
e comecei a inventar
em cada gesto
a liberdade.

Nasci
aqui
ao pé do mar
duma garganta magoada no cantar.
Eu sou a festa
inacabada
quase ausente
eu sou a briga
a luta antiga
renovada
ainda urgente.

Eu sou português
aqui
o português sem mestre
mas com jeito.

Eu sou português
aqui
e trago o mês de Abril
a voar
dentro do peito.

Eu sou português aqui

José Fanha

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Potemkine



M'en voudrez-vous beaucoup si je vous dis un monde
Qui chante au fond de moi au bruit de l'ocean
M'en voudrez-vous beaucoup si la revolte gronde
Dans ce nom que je dis au vent des quatre vents
Ma memoire chante en sourdine : Potemkine.

Ils etaient des marins durs a la discipline
Ils etaient des marins, ils etaient des guerriers
Et le coeur d'un marin au grand vent se burine,
Ils etaient des marins sur un grand cuirassé
Sur les flots je t'imagine : Potemkine.

M'en voudrez-vous beaucoup si je vous dis un monde
Ou celui qui a faim va etre fusillé
Le crime se prepare et la mer est profonde
Que face aux revoltés montent les fusiliers
C'est mon frére qu'on assassine : Potemkine.

Mon frére, mon ami, mon fils, mon camarade
Tu ne tireras pas sur qui souffre et se plaint
Mon frére, mon ami, je te fais notre alcade
Marin, ne tire pas sur un autre marin
Ils tournerent leurs carabines : Potemkine.

M'en voudrez-vous beaucoup si je vous dis un monde
Ou l'on punit ainsi qui veut donner la mort
M'en voudrez-vous beaucoup si je vous dis un monde
Ou l'on n'est pas toujours du coté du plus fort
Ce soir j'aime la marine : Potemkine

Jean Ferrat

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Sou de outras coisas.

Sou doutras coisas - Fernando Tordo


Sou de outras coisas
pertenço ao tempo que há-de vir sem ser futuro
e sou amante da profunda liberdade
sou parte inteira de uma vida vagabunda
sou evadido da tristeza e da ansiedade

Sou doutras coisas
fiz o meu barco com guitarras e com folhas
e com o vento fiz a vela que me leva
sou pescador de coisas belas, de emoções
sou a maré que sempre sobe e não sossega

Sou das pessoas que me querem e que eu amo
vivo com elas por saber quanto lhes quero
a minha casa é uma ilha é uma pedra
que me entregaram num abraço tão sincero

Sou doutras coisas
sou de pensar que a grandeza está no homem
porque é o homem o mais lindo continente
tanto me faz que a terra seja longa ou curta
tranco-me aqui por ser humano e por ser gente

Sou doutras coisas
sou de entender a dor alheia que é a minha
sou de quem parte com a mágoa de quem fica
mas também sou de querer sonhar o novo dia

Fernando Tordo

domingo, 14 de setembro de 2008

Plegaria de un labrador



Levántate y mira la montaña
de donde viene
el viento, el sol y el agua,
tú que manejas el curso de los ríos,
tú que sembraste el vuelo de tu alma.
Levántate y mírate las manos
para crecer, estréchala a tu hermano,
juntos iremos unidos en la sangre,
hoy es el tiempo que puede ser mañana. Líbranos de aquel que nos domina
en la miseria;
tráenos tu reino de justicia
e igualdad;
sopla como el viento la flor de la quebrada,
limpia como el fuego el cañón de mi fusil;
hágase por fin la voluntad
aquí en la tierra
danos tu fuerza y tu valor
al combatir,
sopla como el viento la flor de la quebrada,
limpia como el fuego el cañón de mi fusil.

Levántate y mírate las manos
para crecer, estréchala a tu hermano,
juntos iremos unidos en la sangre,
ahora en la hora de nuestra muerte.
Amén.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

UMA NOVA MULHER

Uma Nova Mulher - Simone

Que venha essa nova mulher de dentro de mim,
Com olhos felinos felizes e mãos de cetim
E venha sem medo das sombras, que rondam o meu coração,
E ponha nos sonhos dos homens
A sede voraz, da paixão
Que venha de dentro de mim, ou de onde vier,
Com toda malícia e segredos que eu não souber
Que tenha o cio das corças e lute com todas as forças,
Conquiste o direito de ser uma nova mulher
Livre, livre, livre para o amor....
quero ser assim, quero ser assim
Senhora das minhas vontades
E dona de mim
Livre, livre, livre para o amor,
Quero ser assim, quero ser assim,
Senhora das minha vontades
E dona de mim....
Que venha de dentro de mim, ou de onde vier,
Com toda malícia e segredos que eu não souber
Que tenha o cio das corças e lute com todas as forças,
Conquiste o direito de ser uma nova mulher
Livre, livre, livre para o amor
Quero ser assim, quero ser assim,
Senhora das minhas vontades
E dona de mim
Livre, livre, livre para o amor,
Quero ser assim, quero ser assim,
Senhora das minhas vontades
E dona de mim....
Que venha essa nova mulher de dentro de mim
Que venha de dentro de mim ou de onde vier
Que venha essa nova mulher de dentro de mim

SIMONE

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

BIDONVILLE



Regarde-la ma ville
Elle s'appelle bidon
Bidon, bidon, bidonville
Vivre la dedans c'est cotton
Les filles qui ont la peau douce
La vendent pour manger
Dans les chambres l'herbe pousse
Pour y dormir faut se pousser
Les gosses jouent mais le ballon
C'est une boite de sardine, bidon
Donne-moi ta main camarade
Toi qui viens d'un pays ou les hommes sont beaux
Donne-moi ta main camarade
J'ai cinq doigts moi aussi
On peut se croire egaux.
Regarde-la ma ville
Elle s'appelle bidon
Bidon, bidon, bidonville
Me tailler d'ici,a quoi bon.
Pourquoi veux-tu que je me perde
Dans tes cites,a quoi sa sert !
Je verrai toujours de la merde
Meme dans le bleu de la mer
Je dormirais sur des millions
Je reverrai toujours toujours bidon
Donne-moi ta main camarade
Toi qui viens d'un pays ou les hommes sont beaux
Donne-moi ta main camarade
J'ai cinq doigts moi aussi
On peut se croire egaux.
Serre-moi la main, camarade
Je te dis au revoir
Je te dis a bientot
Bientot, bientot
On pourra se parler, camarade,
Bientot, bientot
On pourra s'embrasser, camarade,
Bientot, bientot
Les oiseaux, les jardins, les cascades,
Bientot, bientot
Le soleil dansera, camarade
Bientot, bientot
Je t'attends, je t'attends, camarade.

domingo, 13 de julho de 2008

DESDE MI LIBERTAD



Sentada en el anden,
Mi cuerpo tiembla y puedo ver,
Que a lo lejos silva el viejo tren
Como sombra del ayer.no sera facil ser
De nuevo un solo corazón,
Siempre habia sido una mitad
Sin saber mi identidad.
No llevare ninguna imagen de aqui
Me ire desnuda igual que naci,
Debo empezar a ser yo misma y saber
Que soy capaz y que ando por mi pie.
Siempre habia sido una mitad,
Sin saber mi identidad
No llevare ninguna imagen de aqui,
Me ire desnuda igual que naci,
Debo empezar a ser yo misma y saber,
Que soy capaz y que ando por mi pie.
Desde mi libertad
Soy fuerte porque soy volcan,
Nunca me enseñaron a volar
Pero el vuelo debo alzar.
Nunca me enseñaron a volar
Pero el vuelo debo
Alzar

terça-feira, 24 de junho de 2008

ABRIL 74




Companys, si sabeu on dorm la lluna blanca,
digueu-li que la vull
però no puc anar a estimar-la,
que encara hi ha combat.

Companys, si coneixeu el cau de la sirena,
allà enmig de la mar,
jo l'aniria a veure,
però encara hi ha combat.

I si un trist atzar m'atura i caic a terra,
porteu tots els meus cants
i un ram de flors vermelles
a qui tant he estimat,
si guanyem el combat.

Companys, si enyoreu les primaveres lliures,
amb vosaltres vull anar,
que per poder-les viure
jo me n'he fet soldat.

I si un trist atzar m'atura i caic a terra,
porteu tots els meus cants
i un ram de flors vermelles
a qui tant he estimat,
quan guanyem el combat.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

CANTATA DA PAZ.

Cantata da Paz - Francisco Fanhais

Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar


Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror


A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças


D'África e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados


Nada pode apagar
O concerto dos gritos
O nosso tempo é
Pecado organizado.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 1 de junho de 2008

A poesia é uma arma carregada de futuro.

La poesía es un arma cargada de futuro - Gabriel Celaya - Paco Ibáñez

Cuando ya nada se espera personalmente
exaltante,
más se palpita y se sigue más acá de la
consciencia,
fieramente existiendo, ciegamente afirmando,
como un pulso que golpea las tinieblas,
que golpea las tinieblas.

Cuando se miran de frente
los vertiginosos ojos claros de la muerte,
se dicen las verdades ;
las bárbaras, terribles, amorosas crueldades,
amorosas crueldades.

Poesía para el pobre, poesía necesaria
como el pan de cada día,
como el aire que exigimos trece veces por minuto
para ser y tanto somos, dar un sí que glorifica,
dar un sí que glorifica.

Porque vivimos a golpes, porque apenas si nos
dejan
decir que somos quien somos,
nuestros cantares no pueden ser sin pecado un
adorno,
Estamos tocando el fondo,
estamos tocando el fondo.

Maldigo al poesía concebida como un lujo
cultural para los neutrales
que lavándose las manos, se desentienden y evaden.
Maldigo la poesía de quien no ha tomado partido,
partido hasta mancharse.

Hago mías las faltas. Siento en mi a cuantos
sufren
y canto respirando.
Canto y canto y cantando más allá de mis penas
de mis penas personales,
me ensancho, me ensancho.

Quiero daros vida, provocar nuevos actos,
y calculo por eso, con técnica que puedo.
Me siento un ingeniero del verso y un obrero
que trabaja con otros a España,
a España a sus aceros.

No es una poesía gota a gota pensada,
No es un bello producto. No es un fruto
perfecto,
es lo más necesario: lo que no tiene nombre.
Son gritos en el cielo, y en la tierra son actos.

Porque vivimos a golpes, porque apenas si nos
dejen
decir que somos quien somos,
nuestros cantares no pueden ser sin pecado un
adorno
Estamos tocando el fondo,
Estamos tocando el fondo.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

CATARINA EUFÉMIA

Cantar Alentejano - Jose Afonso


Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão por
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem pr'a si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p´ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar.

JOSÉ AFONSO

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Homenagem a VICTOR JARA




Victor Jara estava nas instalações da Universidade, quando se deu o golpe de Estado de Augusto Pinochet, em 11 de Setembro de 1973.
Os militares cercaram a Universidade onde se encontravam alunos, funcionários e professores, obrigando-os a passar a noite de 11 para 12 de Setembro dentro das suas instalações.
No dia seguinte invadiram a Universidade e transportaram-nos para o Estádio do Chile, convertendo-o num campo de concentração.
Os prisioneiros foram mantidos lá num clima de fome, frio, violência e terror durante vários dias.
Victor Jara foi reconhecido pelos militares e foi espancado e torturado durante esses dias, até ao seu assassinato a 16 de Setembro.

Nos dias anteriores ao seu assassinato, escreveu este poema que, graças aos seus companheiros de cativeiro, conseguiu chegar até nós. E neste dia em que a justiça chilena condenou o seu cruel assassino, aqui deixo a minha homenagem a este grande homem de convicções. Hasta siempre Victor Jara.


"Somos cinco mil

Somos cinco mil aquí.
En esta pequeña parte de la ciudad.
Somos cinco mil.
¿Cuántos somos en total
en las ciudades y en todo el país?

Somos aquí diez mil manos
que siembran y hacen andar las fábricas.

¡Cuánta humanidad
con hambre, frío, pánico, dolor,
presión moral, terror y locura!

Seis de los nuestros se perdieron
en el espacio de las estrellas.

Un muerto, un golpeado como jamás creí
se podría golpear a un ser humano.

Los otros cuatro quisieron quitar
se todos los temores,uno saltando al vacío,
otro golpeándose la cabeza contra el muro,
pero todos con la mirada fija de la muerte.

¡Qué espanto causa el rostro del fascismo!

Llevan a cabo sus planes con precisión artera sin importarles nada.
La sangre para ellos son medallas.
La matanza es acto de heroísmo.

¿Es éste el mundo que creaste, Dios mío?
¿Para esto tus siete días de asombro y trabajo?

En estas cuatro murallas sólo existe un número que no progresa.
Que lentamente querrá la muerte.

Pero de pronto me golpea la consciencia
y veo esta marea sin latido
y veo el pulso de las máquinas
y los militares mostrando su rostro de matrona lleno de dulzura.

¿Y Méjico, Cuba, y el mundo?
¡Qué griten esta ignominia!

Somos diez mil manos que no producen.
¿Cuántos somos en toda la patria?

La sangre del Compañero Presidente
golpea más fuerte que bombas y metrallas.
Así golpeará nuestro puño nuevamente.
Canto, que mal me salescuando tengo que cantar espanto.
Espanto como el que vivo, como el que muero, espanto.

De verme entre tantos y tantos momentos del infinito
en que el silencio y el grito son las metas de este canto.

Lo que nunca vi, lo que he sentido
y lo que siento hará brotar el momento..."

Victor Jara

quarta-feira, 14 de maio de 2008

AS BRUMAS DO FUTURO




Sim, foi assim que a minha mão
Surgiu de entre o silêncio obscuro
E com cuidado, guardou lugar
À flor da Primavera e a tudo

Manhã de Abril
E um gesto puro
Coincidiu com a multidão
Que tudo esperava e descobriu
Que a razão de um povo inteiro
Leva tempo a construir

Ficámos nós Só a pensar Se o gesto fora bem seguro

Ficámos nós A hesitar
Por entre as brumas do futuro

A outra acção prudente
Que termo dava
À solidão da gente
Que deseperava
Na calada e fria noite
De uma terra inconsolável
Adormeci
Com a sensação
Que tinhamos mudado o mundo
Na madrugada
A multidão
Gritava os sonhos mais profundos

Mas além disso
Um outro breve início
Deixou palavras de ordem
Nos muros da cidade
Quebrando as leis do medo
Foi mostrando os caminhos
E a cada um a voz
Que a voz de cada era
A sua voz
A sua voz

terça-feira, 6 de maio de 2008

Maio Maduro Maio




“Isto vai meus amigos isto vai

um passo atrás são sempre dois em frente

e um povo verdadeiro não se trai

não quer gente mais gente que outra gente

Isto vai meus amigos isto vai

o que é preciso é ter sempre presente

que o presente é um tempo que se vai

e o futuro é o tempo resistente

Depois da tempestade há a bonança

que é verde como a cor que tem a esperança

quando a água de Abril sobre nós cai.

O que é preciso é termos confiança

se fizermos de Maio a nossa lança

isto vai meus amigos isto vai.”


Ary dos Sandos " O Futuro"

domingo, 27 de abril de 2008

As portas que Abril abriu.



...Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
Ary dos Santos

sábado, 26 de abril de 2008

SOMOS LIVRES



Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.

Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.

Uma gaivota voava, voava,
asas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

25 de Abril Sempre

Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 14:30h



Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.
Pretendendo continuar a informar o País sobre o desenrolar dos acontecimentos históricos que se estão processando, o Movimento das Forças Armadas comunica que as operações iniciadas na madrugada de hoje se desenrolam de acordo com as previsões, encontrando-se dominados vários objectivos importantes de entre os quais de citam os seguintes:
- Comando da Legião Portuguesa
- Emissora nacional
- Rádio Clube Português
- Radiotelevisão Portuguesa
- Rádio Marconi
- Banco de Portugal
- Quartel-General da Região Militar de Lisboa
- Quartel-General da Região Militar do Porto
- Instalações do Quartel-Mestre-General
- Ministério do Exército, donde o respectivo Ministro se pôs em fuga
- Aeroporto da Portela
- Aeródromo Base n.º 1
- Manutenção Militar
- Forte de Peniche

S. Ex.ª o Almirante Américo Tomás, S. Ex.ª o Prof. Marcelo Caetano e os membros do Governo encontram-se cercados por forças do Movimento no quartel da Guarda Nacional Republicana, no Carmo, e no Regimento de Lanceiros 2 tendo já sido apresentado um ultimato para a sua rendição.
O Movimento domina a situação em todo o País e recomenda, uma vez mais, a toda a população que se mantenha calma. Renova-se, também, a indicação já difundida para encerramento imediato dos estabelecimentos comerciais, por forma a não ser forçoso decretar o recolher obrigatório.

Viva Portugal!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Comunicado do MFA

Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 04:20h

Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária.

domingo, 20 de abril de 2008

Grandola Vila Morena - 2ª senha



Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

sexta-feira, 18 de abril de 2008

E depois do adeus - 1ª Senha



Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Canto Moço



Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Nave gamos de vaga em vaga
Não sou bemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de manhã clara

Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Mensageira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Se Vossa Excelência.



Se Vossa Excelência Senhor Presidente
Viesse cá almoçar mais vezes
Se um dia chegasse de surpresa
Iria ver onde é a nossa mesa
Pr'aí pela beira da estrada
Ou entre as pilhas da madeira
Podia ver como é que a gente come
Podia ver como é que a gente vive.

Se Vossa Excelência Senhor Presidente
Viesse cá almoçar mais vezes
Iria ouvir discursos bem diferentes
Nas bocas que hoje foram tão galantes
Iria ver como essa gente
Tão boazinha e sorridente
Como essa gente trata quem trabalha
Como nos fala aqui no dia-a-dia.

Se Vossa Excelência Senhor Presidente
Viesse cá almoçar mais vezes
Se cá viesse sem a comitiva
Então veria o que é a nossa vida
Veria a gente despedida
Ameaçada e ofendida
Por defender o pão das nossas bocas
Por defender o pão dos nossos filhos.

Se Vossa Excelência Senhor Presidente
Viesse cá almoçar mais vezes
Se um dia aqui chegasse sem aviso
Então faria disto um bom juízo
Iria ver como é roubado
Quem dia a dia é explorado
Que aqui quem manda faz tudo o que quer
Mas não vai ser não vai ser sempre assim.

Se Vossa Excelência Senhor Presidente...

CRAVO DE ABRIL

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Era de noite e levaram.



Era de noite e levaram
Era de noite e levaram
Quem nesta cama dormia
Nela dormia, nela dormia

Sua boca amordaçaram
Sua boca amordaçaram
Com panos de seda fria
De seda fria, de seda fria

Era de noite e roubaram
Era de noite e roubaram
O que na casa havia
na casa havia, na casa havia

Só corpos negros ficaram
Só corpos negros ficaram
Dentro da casa vazia
casa vazia, casa vazia

Rosa branca, rosa fria
Rosa branca, rosa fria
Na boca da madrugada
Da madrugada, da madrugada

Hei-de plantar-te um dia
Hei-de plantar-te um dia
Sobre o meu peito queimada
Na madrugada, na madrugada

terça-feira, 8 de abril de 2008

Menina dos olhos tristes.



Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar

25 de Abril Sempre - Obrigado Salgueiro Maia 2

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Trás outro amigo também.




Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Fala do Homem Nascido



Venho da terra assombrada
Do ventre da minha mãe.
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui.
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.

Trago boca pra comer
E olhos pra desejar.
Tenho pressa de viver
Que a vida é água a correr.

Tenho pressa de viver
Que a vida é água a correr.
Venho do fundo do tempo
Não tenho tempo a perder.

Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao Norte.
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada.

Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham.
Nem forças que me molestem
Correntes que me detenham.

Quero eu e a natureza
Que a natureza sou eu.
E as forças da natureza
Nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar.

Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.

Venho da terra assombrada
Do ventre da minha mãe.
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém.

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui.
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci.

Canto do desertor



Oh mar… oh mar…
Que beijas a terra,
Vai dizer à minha mãe
Que não vou p`rá guerra.

Diz, oh mar, à minha mãe,
Que matar não me apraz
No fundo quem vai à guerra
É aquele que a não faz.

Vou cantar a Liberdade,
Para a minha Pátria amada,
E para a Mãe negra e triste
Que vive acorrentada.

Mas a voz do nosso povo,
No dia do julgamento,
Te dirá a ti, oh mar.
E dirá de vento a vento,

Quem são os traidores,
Se é quem nos rouba o pão
Ou se nós os desertores
Que à guerra dizemos «Não».

Hoy puede ser un gran dia.



"Hoy puede ser un gran día",
plantéatelo así:
aprovecharlo o que pase de largo
depende en parte de tí.

Dale el día libre a la experiencia
para comenzar
y recíbelo como si fuera
fiesta de guardar.

No consientas que se esfume,
asómate y consume la vida a granel...
"Hoy puede ser un gran día", duro con él...
"Hoy puede ser un gran día",
donde todo está por descubrir,
si lo empleas como el último
que te toca vivir.

Saca de paseo a tus instintos,
y ventílalos al sol
y no dosifiques los placeres,
si puedes, derróchalos.

Si la rutina te aplasta,
dile que ya basta de mediocridad...
"Hoy puede ser un gran día",
date una oportunidad...
"Hoy puede ser un gran día", i
mposible de recuperar,
un ejemplar único,
no lo dejes escapar.
Que todo cuanto te rodea
lo han puesto para tí.
No lo mires desde la ventana,
y siéntate al festín.
Pelea por lo que quieres
y no desesperes si algo no anda bien...
"Hoy puede ser un gran día"
y mañana también...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Para la Libertad



Para la libertad sangro, lucho, pervivo.
Para la libertad, mis ojos y mis manos,
como un árbol carnal, generoso y cautivo,
doy a los cirujanos.
Para la libertad siento más corazones
que arenas en mi pecho:
dan espumas mis venas,
y entro en los hospitales,
y entro en los algodones como en las azucenas.
Porque donde unas cuencas vacías amanezcan,
ella pondrá dos piedras de futura mirada y
hará que nuevos brazos y nuevas piernas
crezcan en la carne talada.
Retoñarán aladas de savia sin otoño,
reliquias de mi cuerpo
que pierdo en cada herida.
Porque soy como el árbol talado,
que retoño: aún tengo la vida.

Caminante no hay camino



Todo pasa y todo queda
Pero lo nuestro es pasar,
Pasar haciendo caminos,
Caminos sobre la mar.

Nunca perseguí la gloria,
Ni dejar en la memoria
De los hombres mi canción;
Yo amo los mundos sutiles,
Ingrávidos y gentiles
Como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse de sol y grana,
Volar bajo el cielo azul,
Temblar súbitamente y quebrarse...
Nunca perseguí la gloria.

Caminante son tus huellas el camino y nada más;
Caminante, no hay camino se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
Y al volver la vista atrás
Se ve la senda que nunca
Se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
Donde hoy los bosques se visten de espinos
Se oyó la voz de un poeta gritar
Caminante no hay camino, se hace camino al andar...

Golpe a golpe, verso a verso...
Murió el poeta lejos del hogar
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse, le vieron llorar.
"caminante, no hay camino, se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...
Cuando el jilguero no puede cantar
Cuando el poeta es un peregrino,
Cuando de nada nos sirve rezar.
Caminante no hay camino, se hace camino al andar.